Do Pé na África
Democracia ajuda a crescer?
Uma das questões intrigantes da política mundial é a relação entre democracia e crescimento econômico. Países democráticos crescem mais? O debate é quente na academia. Quem acredita na relação argumenta que níveis sólidos de crescimento e distribuição de renda dependem de regras bem definidas, liberdade para investir, morar e trabalhar e a fiscalização constante que apenas uma democracia pode dar.
Quem duvida dela lembra que a democracia é demorada e burocrática, e aponta para a China como exemplo de que uma ditadurazinha pode ser bem melhor.
A análise do último Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, divulgada na segunda-feira, oferece exemplos para as duas teses. O país africano com maior IDH é Líbia, um dos regimes mais fechados do planeta. Outro que figurou relativamente bem é uma ditadura de meter medo, a Guiné Equatorial. Apenas uma democracia do continente tem alto desenvolvimento humano, o minúsculo Estado insular das Ilhas Maurício.
Mas uma olhada no ranking “relativo”, o dos países cujos IDHs cresceram mais em relação ao ano passado, oferece uma visão mais favorável aos adeptos da importância da democracia para o desenvolvimento. Apenas para lembrar, o IDH obedece uma escala de 0 (pobreza) a 1 (riqueza), baseado numa complexa fórmula que pesa diversos indicadores.
Entre os 20 africanos que mais se desenvolveram no último ano, não há nenhuma ditadura absoluta. Numa classificação arbitrária e sujeita a alguma polêmica, identifiquei 13 democracias completas e 7 democracias que eu chamaria de “imperfeitas”, em que há eleições e multipartidarismo, mas por algum motivo estranho o mesmo partido (e o mesmo presidente) sempre ganha as votações.
Países recém-saídos de guerras civis horrorosas e agora democráticos estão em plena reconstrução. Serra Leoa foi o terceiro país cujo IDH mais cresceu no mundo nesse ano (aumento de 2,24%). A Libéria ficou em sétimo, com aumento de 1,84%.
A República Democrática do Congo, embora uma democracia imperfeita, teve um salto no IDH de 4,85% nesse ano, o maior entre 182 pesquisados. Também aparecem bem na foto democracias como Tanzânia, Moçambique, Maláui, Zâmbia, Botsuana e Gana (Gana, aliás, foi um dos poucos países a pular duas posições no ranking da ONU, indo para a posição 152).
Também tiveram ganhos expressivos Angola (em razão do petróleo), Etiópia e Uganda. Nenhuma pode ser considerada um modelo de democracia, mas também não são ditaduras barra-pesada.
É um fato que a África viveu uma onda liberalizante na última década e meia. Mais democracias surgiram, e até alguns bons exemplos de boa governança. Regimes opressores e corruptos caíram no Congo, África do Sul, Quênia, Zâmbia e Nigéria, entre outros. Verdade que muitas vezes o que veio a seguir decepcionou. Mas ao menos respira-se ares um pouco mais leves no continente. Falta agora o salto do crescimento econômico.
10/16/2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário