10/21/2005

No tango a vida renasce

Palavras contadas para uma introdução sintética sobre minha visão da vida. A primeira de muitas. Primeira vez no Mundo Externo, a sociedade anônima sem fins lucrativos. Nada mais natural na vida que escrever, especialmente sobre a vida. Muito se pergunta sobre o sentido, finalidade, propósito e afins, da dita cuja. Vamos mentir - ou seria iludir? - um pouco e dizer que seria escrever, a tal meta. Fora o preconceito iluminista de que os ignorantes não conhecem da vida, é um absurdo até bonitinho. Sem querer entrar no mérito de quem é o real ignorante, lógico. Como todas as limitações, essa presunção é libertadora. Se viver é escrever, podemos ditar na medida de parágrafos o ritmo da vida. Mesmo que vivamos escrevendo nossas vidas, o importante é a ação: vida não existe sem esse ato que materializa algo que existe em algum lugar do reino dos sonhos ou das idéias em poesia concreta, que chamamos de vida. Mas não tem papel. Ou será que tem? E se analisarmos que o trajeto é misturado com o feliz e o triste, o esperado e a surpresa, a tendência é que pensemos mais na tristeza que na alegria, já que ninguém gasta alegria pensando como era triste. Mas nesse gotinho de desgosto nós impomos nosso ritmo, meio enfumaçado, meio arteiro e meio escorregado, como em um bom blues. E se um tango me cai bem melhor que um blues, ouso dizer que a vida corre nas nossas linhas de escritores como um tango nos pés do casal de bailarinos. Com força, com drama, com arte. Escrevemos na linguagem mais universal, a música, a vida. E assim como nos perdemos no meio de um texto sem saber o seu desfecho, escrevemos linhas e passos sem achar nosso ritmo e esperança, lá vem o tango, e a vida renasce.

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