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Por
mais indignados que estejam os brasileiros, por mais sombria que
pareça a situação, sabemos de onde não virá luz alguma: da
subversão da ordem democrática - venha da direita, venha da
esquerda, venha de qualquer um, venha de qualquer lugar, sob qualquer
verniz.
Diante
dos sentimentos que mexem com os brasileiros hoje, palavras de defesa
de valores republicanos podem parecer platitudes desprovidas de
sentido real. Podem parecer estrangeiras a quem sofre, no dia a dia,
a violência moral e física que corrói a fé na democracia que
temos.
Mas
é nos momentos mais difíceis, como este, que a democracia precisa
ser defendida. Pois - e esta é uma verdade histórica e um
imperativo moral - somente a democracia nos oferece a promessa de
liberdade, igualdade e uma vida decente. Somente nela há luz. Há
esperança. Há razão.
Qualquer
problema que o país tenha, e ele tem muitos, só será resolvido -
só pode ser resolvido - pelas vias democráticas, pelos caminhos
oferecidos pelo estado de direito. Pelo respeito às instituições -
e entre instituições. Pela obediência à Constituição e à lei.
É
a natureza da ordem democrática, portanto, que proíbe, por
definição, aventuras autoritárias - o autoritarismo sufoca a
liberdade, o bem que todos devemos prezar, acima de qualquer
diferença política.
É
nesse sentido que as manifestações do comandante do Exército, em
tom claramente político, alheio às atribuições constitucionais
dos militares, merecem inequívoca reprovação. Não cabe a generais
tentar imiscuir-se, ainda que indiretamente, em decisões do Poder
Judiciário.
Um
general tem obrigações constitucionais que limitam sua liberdade de
oferecer publicamente opiniões políticas. Ademais, o Exército nada
pode fazer - não numa democracia - acerca da “impunidade”. A
“missão constitucional” do Exército passa longe dos tribunais.
É
igualmente preocupante que integrantes do Judiciário sintam-se à
vontade para aplaudir palavras como as proferidas pelo comandante do
Exército. Juízes e generais devem exercitar, especialmente num
momento como este, a moderação silenciosa que a Constituição lhes
impõe.
Esperemos
todos que a racionalidade e a sensatez, sobretudo por parte daqueles
que cumprem funções institucionais relevantes para o país, vençam
a tentação de proferir palavras desarrazoadas.
Diego
Escosteguy
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