12/03/2011

31 Canções - Nick Hornby

Especial para Cindy Ceissler. 

Se você ama uma canção, ama-a o bastante para que ela o acompanhe por diferentes fases de sua vida e daí qualquer lembrança específica se apaga com o uso.

Mas às vezes, muito ocasionalmente, canções, livros filmes e fotografias expressam perfeitamente quem você é. E não fazem isso necessariamente por palavras ou imagens; a associação é muito menos direta e muito mais complicada que isso.

Dave Eggers tem uma teoria de que ouvimos certas canções repetidamente, aqueles de nós que o fazem, porque temos que “liquidá-las”, e é verdade que, no princípio do nosso namoro com uma nova canção, existe uma fase semelhante a uma espécie de perplexidade emocional.

Para mim, aprender a amar canções mais calmas – canções de country, soul e flok, baladas cantadas por mulheres e cantadas ao piano, viola ou uma porra dessas canções harmoniosas com nomes como “Carey” (porque qual a pessoa com um par de ouvidos que não adora Blue? – não tem a ver com ficar mais velho e sim com o fato de adquirir confiança musical, capacidade de julgar por mim mesmo.

Só posso dizer que consigo ouvir coisas que não estão ali, ver e sentir coisas que normalmente não consigo ver e sentir e começo a perceber que, sim, existe algo como uma alma imortal ou, no mínimo, uma consciência humana unificadora, que nossas vidas são curtas, mas têm um significado.

A melhor música conecta-se à alma, não ao cérebro e temo que toda essa devoção a Dylan seja de algum modo antimúsica – que ela nos cause a impressão de que o coração não conta e só a cabeça importa.

Se conseguirmos ouvir Dylan e os Beatles em sua forma inequivocamente mais pura no seu auge – mas uma forma inequivocamente pura de um jeito que não ouvimos mil, um milhão de vezes antes – nós de repente obteremos um pequeno mas eletrizante lampejo do espírito deles e isso é o mais próximo que aqueles de nós nascidos na época errada chegaremos a saber de como deve ter sido ouvir essas músicas jorrando do rádio quando não se esperava por elas, nem por nada como aquilo.

Em outras palavras, letras de amor são como um instrumento musical e canções de amor tornam-se de algum modo pura canção. Talvez seja isso que dê a vantagem a “You had time”: nossas separações, no fim das contas, têm mais melodia do que nosso trabalho.

Mas meus solos favoritos são aqueles que de alguma maneira mostram que o solista sentiu a canção, as palavras, a música e tudo o mais, sentiu a canção e captou sua verdadeira natureza, o que torna o solo não só uma reinterpretação imaginativa dela, mas também expressa e contribui para seu sentido e essência como um comentário crítico prático e brilhante.

É importante que ocasionalmente, talvez até com mais frequência, fiquemos deprimidos por livros, sejamos desafiados por filmes, chocados por pinturas, até mesmo perturbados pela música. Mas será que eles têm que fazer essas coisas o tempo todo? Não podemos deixar que nos consolem, elevem, inspirem, emocionem, alegrem? Por favor. Só de vez em quando, quando temos um dia realmente de merda?

Só quando conhece e ama uma banda é que você se torna o tipo de crítico de música que quaisquer revista e jornal deveriam contratar.

O acorde, o mais simples componente para até mesmo a mais banal e tola canção de parada de sucesso, é uma coisa linda, perfeita, misteriosa e, quando um brutamontes pouco instruído, inculto, rude, emocionalmente ignorante junta alguns desses acordes, tem toda a possibilidade de criar algo maravilhoso e poderoso.

[...] A música serve como forma de auto-expressão mesmo para aqueles de nós que conseguem se expressar razoavelmente bem pela fala ou pela escrita [...]

Não posso mais me dar ao luxo de ser um presunçoso do pop e se lá fora existe um trecho de música que tem a capacidade de me comover, então quero ouvi-lo, não importa quem tenha feito.